Dividendos nos ETFs: receber em dinheiro ou reinvestir automaticamente?
Veja como funciona o “caminho” dos dividendos em cada tipo de ETF e por que isso impacta a sua construção de patrimônio.


Se você procurar por um ETF, pode muito frequentemente encontrar duas opções: ETF de acumulação e ETF de distribuição.
Qual é a diferença entre eles? Bom, tem tudo a ver com dividendos, e vou te explicar de uma maneira muito simples.
Mas antes, vamos recapitular o que é dividendo.
Se uma empresa tem lucro, ela pode fazer basicamente duas coisas:
Distribuir esse lucro em forma de dividendos para os donos das ações ou, reinvestir na própria empresa, para crescer mais, vender mais e assim por diante.
As duas coisas são positivas, e em uma carteira diversificada é importante ter os dois tipos de empresa.
O que é yield, na prática
Na distribuição de dividendos, existe algo chamado yield, que pode parecer difícil, mas dá para explicar de forma bem simples.
Imagine que uma empresa valha 10 milhões de libras e esteja dividida em 100 mil ações. Logo, cada ação vale 100 libras, afinal: 10 milhões dividido por 100 mil = 100.
Agora imagine que essa empresa tenha tido um lucro de 500 mil libras em 2025 e queira distribuir esse lucro entre os acionistas. Como será feita essa divisão?
500 mil(lucro total) divididos por 100 mil ações(quantidade de ações) = 5 libras por ação.
Se você tinha uma ação que vale 100 libras e recebeu 5 de dividendos, o yield é de 5%. Ou seja, uma ação que custa 100 te pagou um dividendo equivalente a 5% do valor dela.
Comparando com o aluguel de um imóvel
O yield é como se fosse o “aluguel” que você recebe de um imóvel.
Imagine que você tenha uma casa avaliada em 300 mil e receba 15 mil de aluguel por ano. Seu yield também é de 5%, afinal 15 mil é 5% de 300 mil.
Se a casa vale 300 mil e você consegue receber 30 mil por ano de aluguel, seu yield passa a ser 10%.
Com ações funciona igual. Se você tem uma ação de 100 libras e recebe 1 libra de dividendos, seu yield é de 1%. Se recebe 5 libras, como no exemplo da empresa acima, seu yield é de 5%.
O problema de correr atrás só de yield alto
Muita gente, principalmente quem acaba investindo só em empresas de dividendos (cuidado com essa estratégia), fica o tempo todo procurando yields cada vez mais altos.
Existem muitas razões ruins pelas quais uma empresa pode estar distribuindo dividendos com yield alto.
Posso falar disso em outro momento, mas a ideia principal é: yield alto, sozinho, não é garantia de coisa boa.
Como isso funciona em um ETF
Em ETF o funcionamento é parecido, porém dentro de um ETF você não tem uma única empresa, mas sim dezenas, centenas ou até milhares.
Algumas nem mesmo distribuem dividendos (e eu já falei que isso não é problema – na verdade, muitas vezes é até melhor, né?).
Mesmo entre as empresas que distribuem, cada uma paga um yield diferente.
Portanto, quando você olha o yield de um ETF, você está vendo o yield médio de todas as empresas somadas.
Por exemplo, um ETF global como o VWRP tem um yield aproximado de cerca de 1,8%.
Isso quer dizer que, a cada 1.000 libras que você tiver desse ETF, você terá um recebimento de dividendo de cerca de 18 libras por ano.
Talvez você pense: “Ah Samuel, isso é muito pouco.” Mais uma vez eu preciso falar: dividendo não é a única nem a melhor maneira de receber retorno quando se investe.
Já falei sobre isso algumas vezes, inclusive tenho um vídeo no YouTube sobre isso, vou deixar o link no final.
Voltando ao tema de hoje: o yield então é 1,8%, que é a média de pagamento de todas as empresas dentro desse ETF.
E para onde vai esse dinheiro?
A diferença entre ETF de acumulação e de distribuição
É aqui que entra a diferença entre o ETF de acumulação e o ETF de distribuição.
A diferença é bem simples.
ETF de acumulação: ideal para a fase de construção de patrimônio
No ETF de acumulação, você não recebe o dividendo “na mão”. Ele é automaticamente reinvestido dentro do próprio fundo.
Na prática, se a cota custava 100 e houve o pagamento de um dividendo de 1,8%, a cota passa a valer, de forma simplificada, 101,80 (claro, na vida real o preço também muda por causa do mercado, mas a lógica é essa).
Ou seja, nos ETFs de acumulação, os dividendos são automaticamente reinvestidos, o que é excelente se você estiver na fase de acumulação, construindo patrimônio.
ETF de distribuição: mais prático para quem quer usar a renda
No ETF de distribuição, o dividendo é pago para você. Esse valor, cerca de 1,80, entra como cash no saldo da corretora, e cota continua valendo 100 libras.
Ou seja, nos dois casos você recebe dividendos.
A diferença é que, no primeiro caso (acumulação), esse valor é automaticamente reinvestido; no segundo (distribuição), ele cai na sua conta e você decide o que fazer com ele.
Se você já estiver na fase de usufruir do seu patrimônio, isso pode facilitar a sua vida, porque você passa a receber essa renda diretamente, sem precisar vender cotas.
“Samuel, estou na fase de acumulação, mas quero o de distribuição. Tem problema?”
Não tem problema.
Mas a sua acumulação vai ser bem mais lenta se você não reinvestir esses dividendos. Então, se você estiver nessa fase de construir patrimônio, o interessante é reinvestir o que receber.
Resumo: o que realmente muda entre os dois
Um ETF de distribuição não paga mais dividendos do que um de acumulação. São as mesmas empresas dentro, então a quantidade de dividendos é a mesma.
A diferença é só o que acontece com esse dinheiro:
no ETF de acumulação, ele te ajuda a acumular, porque é reinvestido automaticamente;
no ETF de distribuição, ele te ajuda a usufruir, porque cai como dinheiro na conta.
Em qual fase você está agora: acumulando ou já usando o patrimônio que construiu?
Por que eu NÃO invisto em pagadoras de dividendos?
Neste vídeo eu explico, de forma simples e prática, por que dividendos não são dinheiro “extra”, como funciona o valor real de uma empresa, e por que focar apenas em pagadoras de dividendos pode travar o crescimento do seu patrimônio.

