O ETF de quem gosta de dividendos (eu não gosto)
VHYG: mais de 2 mil empresas globais pagadoras de dividendos.
Acho que uma das dúvidas que mais recebo de pessoas querendo começar a investir é sobre como investir e ganhar dividendos.
E não é algo que me surpreende. Afinal, muitas pessoas divulgam por aí a beleza de se tornar sócio de empresas e receber uma parte do lucro sem precisar fazer nada — a tal da renda passiva.
Eu mesmo invisto em empresas que pagam dividendos. Porém, esse não é meu foco.
Como já falei algumas vezes, minha principal estratégia de investimentos é bem simples: um único ETF global, de baixo custo, com mais de 3 mil empresas espalhadas por todo o mundo.
Dentro dessas 3 mil empresas, claro, muitas delas pagam sim dividendos.
No VWRP, atualmente o dividend yield é de cerca de 1,8%.
Isso significa que, de cada £1.000 investidas, eu recebo 1,8% de dividendos ao ano — cerca de £18 por ano.
O ETF em que eu invisto é do tipo acumulação, ou seja, toda vez que ele recebe esses dividendos, eles são reinvestidos automaticamente no próprio ETF.
Você também tem a opção de escolher um ETF de distribuição, onde essas £18 ficam disponíveis na sua corretora e você decide o que fazer com esse valor.
Se você está investindo pensando em construir patrimônio, o ideal é reinvestir os dividendos, então ter um ETF de acumulação faz mais sentido.
Você provavelmente achou que £18 de dividendos para £1.000 de investimento é bem pouco, certo?
E é mesmo.
Porém, como eu falei, nem todas as empresas dentro do ETF são pagadoras de dividendos. Muitas preferem reinvestir o lucro na própria operação, o que faz com que o valor delas aumente.
As empresas que pagam dividendos também podem ter valorização no preço das ações. Mas, de maneira geral, essa valorização costuma ser menor do que a das empresas que reinvestem os lucros.
Somando os dividendos + a valorização das ações, você chega à valorização real do seu investimento, que historicamente fica entre 8% a 10% ao ano.
Ou seja, da valorização total:
uma parte (a menor) vem dos dividendos — cerca de 2%
e a outra parte vem do crescimento no valor das ações — entre 6% a 8%
Um exemplo prático:
Duas empresas: A e B
A paga dividendos.
B não paga.
Depois de 1 ano:
A te pagou 4% de dividendos e valorizou 2% → Crescimento total de 6%. Você tinha £1.000 investidas e agora tem £1.060.
B não pagou dividendos, mas valorizou 8% → Agora você tem £1.080.
Ou seja, não interessa se você recebe dividendos ou não.
O que importa é o crescimento total do seu investimento.
Veja esse exemplo abaixo:
O VHYG é um ETF que reúne apenas empresas pagadoras de dividendos.
O dividend yield histórico dele é de quase 4%.
Ou seja, de cada £1.000 investidas, você recebe cerca de £40 — bem mais do que as £18 do VWRP.
Mas vamos aos números completos:
De março de 2008 até fevereiro de 2023, ou seja, num período de 15 anos, o rendimento médio anual total (dividendos + crescimento) do VHYG foi de 7,31%.
Já o ETF global VWRP, que inclui tanto empresas pagadoras de dividendos quanto empresas de crescimento, teve um retorno de 9,23% ao ano.
Se você tivesse investido £10 mil lá atrás:
No VHYG, teria chegado a £28 mil.
No VWRP, teria chegado a £37 mil — quase £10 mil a mais.
Ou seja, mesmo com um dividend yield maior, o crescimento total do VHYG foi menor.
Outro argumento usado por quem gosta de dividendos é que essas empresas são mais sólidas e sofrem menos em momentos de crise.
E isso pode sim ser verdade.
De fato, empresas que pagam dividendos já estão bem estabelecidas e continuam vendendo bem mesmo em momentos difíceis. Ao contrário de empresas com grande potencial de crescimento (muitas vezes nem lucrativas), que podem sofrer bastante durante as crises.
Porém, por mais que isso faça sentido na teoria, na prática, vemos que ambos os tipos de empresa sofrem quase da mesma forma em momentos de crise, como você pode ver no gráfico abaixo.
O meu ponto é:
Investir é simples, mas muita gente por aí complica.
Infelizmente, dividendos chamam muita atenção, e tem muita gente por aí ensinando a investir baseado apenas em dividend yield.
E você, o que acha? 💬
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O seu maior inimigo é a procrastinação.
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